por Daniela Peroneo

O ENSINO E OS ADOLECENTES EM TEMPOS DE PANDEMIA

Esse foi um ano atípico. Certamente um ano histórico, que tocou todas a vidas em nosso planeta. A pandemia modificou mundialmente a forma de nos relacionarmos com o outro e conosco também. Ela aumentou distâncias sociais e econômicas e gerou novas demandas e lutas para diferentes pessoas e setores.

Um dos campos mais atingidos foi a educação. E, pensando em educação, atingiu a vida de crianças, adolescentes, famílias, profissionais da educação e instituições de ensino de formas não imaginadas anteriormente.

A vida virou um baile frenético: pareceu mudar de ritmo e de melodia de uma hora para outra. Todos nos desacomodamos, pois a realidade exigiu “ou você se desacomoda e se adapta ou você se deprime e se entrega à ansiedade.”

Imagine como fica a cabecinha dos adolescentes em meio a tudo isso. Se administrar a puberdade e a forma de se relacionar com o mundo e com o outro já é difícil, imagine só crescer em tempos de pandemia.

Adolescentes, de forma geral, amam grupos, contato, amizade. Aliás, essa é a forma como definem os limites entre o eu e o outro: nas relações.

Mas a realidade de 2020 colocou a adolescência tentando coordenar o mundo entre acordar e assistir aulas EAD, as quais muitas vezes exigem demais, e muitos não conseguem compreender o porquê daquilo que é pedido e ensinado.

O online dificultou o vínculo e a relação entre professores e alunos, e, certamente, isso trouxe mais dificuldades para aprender, se manter engajado e motivado.

Muitos adolescentes administram suas aulas ligando o computador sem ativar a câmera e continuam deitados ou participando de grupos de conversas online enquanto a aula transcorre. E como esperar uma maturidade pronta nessa área e nessa relação se justamente esse seria o momento de eles construírem isso?

Esse é o ano em que a ansiedade brotou na vida adolescente (de adultos e de crianças também). Cobranças constantes e dificuldade de dar conta do que se pede, somados à falta de uma escuta atenta e de um olhar adequado levaram a uma visão interna crítica, em que se vê uma potencialização de problemas em si mesmo.

A sensação de sossego só aparece na hora do banho e de dormir. E ainda assim como dormir com tanta ansiedade?

Não queremos dizer aqui que o adolescente não deva se desenvolver, crescer e aprender cada vez mais, a questão é que ele não sabe como. A questão é que a sensação de estar pressionado entre o que se deve dar conta e aquilo que se sabe dar conta jorrou em uma demanda que poderíamos comparar a caminhar vendado em um campo minado.

É provável que um adulto, ao observar a demanda de um adolescente, não a ache tão grande assim; contudo, será que teria esse mesmo olhar ao reportar-se a sua vida adolescente? E mesmo se fosse se reportar é preciso que levemos em conta que cada vida e cada pessoa tem a sua forma de interpretar a realidade, de dar significado aos acontecimentos. Como chegar a isso sem uma orientação adequada, que leve em consideração as especificidades individuais?

Imaginem o impacto de frases como “aprende quem quer” para quem não está conseguindo aprender, se concentrar frente a toda a demanda interna e se sentindo cansado de estar fracassando em comparação a outros, quando ainda está construindo a capacidade de se frustrar. É isso que mostra a realidade de muitos adolescentes desmotivados e cansados, tristes e recolhidos, vivendo a cultura das redes sociais e sofrendo, inclusive, bullying através delas e, muitas vezes, durante e após as aulas.

Não há culpados. Há, entretanto, um ano real de uma pandemia mundial. O que precisamos é ouvir nossos adolescentes, acolhê-los e olhá-los com aquele olhar amoroso, gentil e motivador de pais e professores que os ensinaram quando eram crianças a ler, a escrever, a andar de bicicleta, a nadar, entre muitas outras aprendizagens que tinham o olho no olho e frases como: “Vai! Eu sei que tu és capaz.”

No ano em que mais nos distanciamos, adolescentes precisam de carinho e empatia, pois só aprendemos e mantemos dentro de nós aquilo que vivenciamos e sentimos. Portanto, vamos aprender a ser melhores, a ter mais gentileza com o outro e conosco, aproveitando para construir uma educação para pessoas com mais qualidade e fome de viver.

 

 

**  Coluna escrita por Daniela Peroneo e Anna Carina Koche

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