por Maria Alice Prado

COMO SERÁ QUE É TER TEMPO?

Olha o ócio aí , gente! É tão raro que a gente não sabe mais como fazer, como agir e o que fazer dele.

Como será que é ter tempo?

Se agora há mais tempo, como justificar o não ligar para um amigo só para bater papo ou fazer um alongamento assim que acordar já que isso aplaca aquela dor nas costas?

Sabemos que essas atitudes nos fazem bem e raramente conseguimos um tempo para isso. Esse momento para focar no que nos faz bem é precioso e nossa saúde emocional depende dele. Temos sido constantemente consumidos pelo celular, pelos jogos, pela TV e pelo trabalho excessivo.

Essas desculpas não colam mais, já que tudo depende de nossas escolhas e principalmente nesses tempos de quarentena.

O marido de uma amiga, que não é da área de saúde, nem autônomo e nem atua com itens de primeira necessidade, não conseguia definir o dia de parar. Estava se arriscando e colocando a família em risco. Até que ela se deu conta, através de uma frase dele, que alí havia mais medo de enfrentar a relação com a família, do que ser contaminado pelo covid 19. Imagina como essa relação estava doente sem que ninguém se desse conta? Por que será que nesse momento ela conseguiu perceber?

Alguns hábitos adquiridos involuntariamente tornam-se as grandes causas do afastamento de nós mesmos.

Conviver com os outros é bem trabalhoso, mas conviver consigo mesmo e olhar no espelho por mais tempo, pode ser muito mais assustador.

Raramente falamos de nossas mazelas, e ao nos isolarmos, estamos sendo conduzidos forçosamente a uma “auto redescoberta”.

O começo desse processo de olhar para dentro, pode ser difícil e o primeiro impacto bem assustador.  Alguns ficam muito ansiosos, outros deprimem, outros se desconectam de tudo ou disparam a fazer coisas sem para não pensar.

Grandes empresas, prevendo esse período de “nova vida” acabam estimulando essa falta de conexão…abrem canais, propõem a atividades lúdicas e oferecem cursos gratuitamente. Sabemos que vão ganhar com isso, e nós, de certo modo, também.

Num futuro, próximo se fizermos tudo direitinho para que a ameaça se vá, vamos lembrar desses profissionais e dessas empresas com gratidão, e quando precisarmos comparar esses serviços, muito provavelmente, são elas que vamos procurar. Estão gerando essa necessidade em nós para colher o resultado quando o serviço não for mais oferecido gratuitamente e não conseguirmos mais ficar sem eles. A estratégia é bem interessante…

E, há nos filmes e cursos disponibilizados, recursos interessantes para suportar a travessia.

Posso garantir que é nesse encontro com os outros, mas principalmente conosco mesmos, que acontece no decorrer do isolamento social, sendo ou não uma escolha, mais cedo ou mais tarde, que mora uma força perdida em nós, roubada pelo cotidiano apressado ou pelas demandas sociais.

Então, faça uma forcinha, tenha coragem, aproveite o tempo e fique com você. Reconheça sua dor, ou suas dores – geralmente não é uma só – aproxime-se dela e aí sim, busque recursos para saná-las. Evitar percebê-las, como comumente fazemos, pode ser muito prejudicial.

Há outro fato: não estamos acostumados a dores coletivas que mudam o funcionamento do mundo. O que isso causa em nós? É importante pesquisar lá no fundo: Medo? Do agora ou do futuro? Ansiedade? Tristeza? Alívio?

Ao contrário do que pensamos, essa aproximação com a dor que nos aflige, nos fortalece. Colamos de volta, pedacinhos da vida, da personalidade, que fomos abandonando pelo caminho.

E quando falamos de insegurança real, nosso cérebro tende a iniciar um árduo trabalho porque ele luta diuturnamente para preservar a vida e quando não enxergamos o inimigo, como enfrenta-lo? Quando vemos a chuva se aproximando no horizonte, sempre podemos decidir: nos escondermos dela, fechar a janela ou fingir que não vai chover e que aquela nuvem será passageira como tantas outras. Negar é a pior medida pois é aceitando e olhando de frente, que podemos encontrar saídas. Então, o segredo é sempre olhar pela janela e vislumbrar firmemente o horizonte.

David Kessler, especialista em luto diz que conhecer seus estágios é um bom começo para esse momento inseguro:

“Há negação, que dizemos muito cedo:  esse vírus não nos afeta .

Há raiva:  você está me fazendo ficar em casa e tirando minhas atividades. 

Há barganhas: Ok, se eu me distanciar por duas semanas tudo ficará melhor, certo? 

Há tristeza:  não sei quando isso vai acabar. 

E, finalmente, há aceitação: Está acontecendo. Eu tenho que descobrir como proceder.

Quando aceitamos que algo está acontecendo em nós e percebemos por onde caminham nossas emoções e pensamentos, é possível estimular a razão e buscar o equilíbrio entre o que é real e o que é efeito da ansiedade e do medo.

Para isso existem alguns recursos:

  • Respirar e ter atenção plena – estar inteiro em cada pequeno gesto, dar sentido ao tempo AGORA para evitar o tédio.
  • Ter consciência de que nada é eterno e esse momento, com essas características, como todos os outros, vai passar.
  • Pensar e preparar o futuro sem ir para o futuro – aproveitar algum tempinho para elaborar projetos para os quais não tínhamos tempo, fazer algo por nós mesmos e pelos outros. A solidariedade alimenta e motiva.
  • Conversar com as pessoas, com o apoio da tecnologia, sem fazer disso uma obrigação ou a grande saída para não estarmos sozinhos: falar de nós, ouvir o outro, com interesse genuíno, entender os pensamentos e emoções e não falar apenas do vírus, do governo, dos supermercados ou da tecnologia. Emoções que se movimentam, trazem saúde.
  • Evitar conflitos e debates que não vão gerar resultado neste momento.

Assistir filmes, fazer cursos, conviver virtualmente, mas também ficar só e nos prepararmos para viver como pessoas mais fortes e felizes, que certamente seremos depois que tudo isso passar.

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