por Filippo Pedrinola

CHOCOLATE FAZ BEM OU FAZ MAL?

Muitas pessoas têm uma verdadeira relação de amor com o chocolate e, uma frase muito comum que eu escuto no consultorio é, “Dr. pode me pedir para tirar tudo da dieta, menos o chocolate.”

Essa história já começou há muito tempo, com os povos antigos Maias e Astecas que habitaram o México e a América Central. Era uma relação sagrada, tanto que a árvore do cacau foi batizada de “Theobroma Cacau”” que significa “Alimento de Deus”. Contudo, nessa época o cacau não era consumido em barra como nos dias de hoje, mas sim em forma de bebida que era conhecida como “Tchocolat”. O cacau era uma moeda de troca, conhecida como “ouro marrom”, e que valia muito. Quem levou o cacau para a Europa foi um navegador espanhol chamado Hernan Cortez, ainda em forma de bebida. Somente em 1825 que o cacau passou a ser consumido em barras.

Deixando a história de lado, vamos conhecer os efeitos que o cacau pode ter no corpo humano. Seu principal efeito é antioxidante, ou seja, contém substâncias que combatem os radicais livres responsáveis pelo processo de inflamação crônica do corpo. Os principais antioxidantes do cacau são os polifenóis e os flavonóides.

Como são compostos que trazem benefícios para o corpo são chamados de compostos bioativos (CBA).

Esses antioxidantes presentes no cacau tem um gosto adstringente, semelhante à sensação quando ingerimos um azeite de oliva extravirgem.  É por isso que na maioria dos chocolates se adiciona açúcar e leite para “disfarçar” esse gosto característico dos polifenóis, porém, para de fato conseguir obter um efeito antioxidante, são necessárias 400 a 500mg de CBA do cacau. Para obter essa quantidade é necessário consumir 20 a 30 gramas de chocolate acima de 70% de cacau. São mais ou menos 2 quadradinhos da barra de chocolate. Uma boa opção seria consumir essa quantidade junto com uma xícara de café a tarde…

De forma geral, o chocolate amargo tem 70 a 80% de CBA enquanto que o chocolate ao leite tem apenas 20 % de CBA. Aí vem o 

problema, apesar do cacau ser ótimo e fazer bem para a saúde, a adição do leite de vaca traz, junto a proteína, a caseína, que tem alto peso molecular e pode causar estragos no nosso intestino por causar inflamação nas vilosidades intestinais e poder levar ao surgimento de rinites, sinusites, dermatite rosácea, asma, candidíase, assim como infecções urinárias de repetição.

Não são apenas os flavonóides e polifenóis que estão presentes no cacau e que fazem bem. Existem também compostos nitrogenados, como a cafeína e a teobromina, que são conhecidos como xantinas. Os principais exemplos de polifenóis e flavonóides do cacau são as proantocianidinas, antocianinas e catequinas.

Além disso, o cacau é rico em potássio, fosforo, cobre e magnésio.

Mas como essas substâncias agem no nosso corpo e trazem benefícios? Vamos lá!

Os polifenóis estimulam uma enzima chamada óxido nítrico sintetase, que transforma a arginina em óxido nítrico (NO). O NO causa vasodilatação das artérias e, portanto, melhora o fluxo de sangue além de estimular a produção de prostaciclinas, que tem caráter 

anti-inflamatório, tudo isso melhora a circulação do sangue, tornando essas substâncias amigas do coração e atuando na prevenção de acidente vascular cerebral (AVC). Já os flavonóides agem numa proteína presente nas nossas células intestinas que é conhecida como SGTL(2), retardando ou dificultando a absorção da glicose para o sangue. Esse mecanismo ajuda a evitar excesso de glicose na corrente sanguínea. 

Os flavonóides, atuam também, na sinalização das quinases que são responsáveis pela sensibilização do receptor de insulina e com isso facilita a entrada da glicose nas células, ajudando a evitar a resistência insulínica e síndrome metabólica. Existem também benefícios do cacau para o nosso cérebro!

As metilxantinas e os flavonóides estimulam a produção de uma proteína chamada BNDF, responsável pela neurogênese, ou seja, a proteção do sistema nervoso central.

Existe também uma outra via, a do NRF2, que aumenta a produção de um poderoso antioxidante conhecido como glutationa. O 

radical livre mais agressivo para o cérebro é o peroxinitrito (NO3¯), que causa um verdadeiro estrago nos neurônios. Os flavonóides são excelentes antioxidantes para combater o NO3¯, diminuindo a inflamação no cérebro.

Já no intestino, as procianidinas e os flavonóides vão ser metabolizados pelas bactérias intestinais e transformadas em ácidos fenólicos e valerolactonas, além de promover a troca de bactérias ruins como stafilococos, clostridium e bacterioidetes por bifidobactérias e lactobacilos. Essa é uma ação prébiotica sobre a nossa microbiota.

Por último, mas não menos importante, 

existe ação do cacau no sistema imunológico através da teobromina, que é um regulador dos linfócitos que são glóbulos brancos. Finalmente, as procianidinas agem contra o câncer inibindo o fator de crescimento que promove a angiogênese, que é a formação de vasos sanguíneos que alimentam as células tumorais, deixando-as sem energia para crescer.

Já os polifenóis diminuem a ação da poliaminas, que são moléculas que alimentam o câncer. 

 Como vimos, o cacau tem várias propriedades benéficas para o nosso corpo, mas cacau não é chocolate.

Aliás, existem basicamente 4 tipos de chocolate: amargo, semi-amargo, ao leite e branco. Quanto mais amargo maior a quantidade de cacau e por isso, essa deve a ser a escolha como alimento funcional. Dê preferência àqueles com pelo menos 70% de cacau e cuidado com a quantidade, já que tem aproximadamente 150 calorias. Essa seria a quantidade ideal para o consumo diário, porém, vamos evitar o “terrorismo nutricional” e liberar os outros tipos de chocolate esporadicamente.

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