Viver uma relação em que existe violência pode modificar você e sua vida completamente. Mas, como em todas as relações que começam, não há como prever como elas se desenharão.
Há, contudo, como compreender as características de uma pessoa tóxica, para perceber os sinais e entender quando você precisa sair de uma relação que pode deixar traumas difíceis de superar.
Vale salientar que diferentes tipos de relações podem se constituir como tóxicas: familiares, profissionais, conjugais, por exemplo.
Nesse texto escolhi falar sobre os relacionamentos amorosos e irei salientar a figura do homem como a pessoa agressiva, porque as mulheres ainda são as maiores vítimas de violência doméstica no Brasil, onde, conforme o Ministério da Saúde, as estatísticas relacionadas à violência contra a mulher são assustadoras: a cada quatro minutos uma mulher é agredida, e a cada oito minutos uma mulher é morta.
Chama a atenção principalmente o fato de que toda violência física costuma acontecer após a violência verbal e psicológica já terem se manifestado.
Da fantasia à dor profunda…
Qual menina que se tornou mulher nunca sonhou em viver um conto de fadas? Claro que quando pensamos e desejamos viver isso o sonho sempre está associado a viver uma história linda e com um final feliz. Contudo, nem todos os contos de fadas são felizes. Foi assim que eu me descobri vivendo dentro de uma história que começou como um conto de fadas, mas que com o tempo foi tomando contornos semelhantes à história “Barba Azul”, escrita por Charles Perrault.
Você conhece o personagem desse conto de fadas?
Barba Azul era um homem aparentemente distinto, o qual usou os recursos que tinha para conquistar uma esposa sobre a qual tivesse o poder de dizer o que ela poderia ou não fazer. Barba Azul mostra-se um personagem agressivo quando contrariado e busca a superioridade e o poder sobre sua parceira. Ele demonstra uma aparência diferente quando está com outras pessoas em comparação aos atos que realiza quando não há testemunhas.
Assim como nesse conto, numa relação onde existe abuso, a sua externalização costuma ficar evidente apenas quando a situação é muito crítica e, às vezes, fatal.
Tal qual o conto de fadas, uma relação abusiva começa com encantamento; contudo, aos poucos, as aparências vão dando lugar à essência do agressor, e suas falas e ações vão transparecendo ao mesmo tempo em que vão sendo negadas por ele continuamente.
É notório que as pessoas que agridem verbal e fisicamente geralmente possuem um transtorno de personalidade e buscam se relacionar com parceiras com as características empáticas que eles não possuem e com pessoas com perfil de dependência emocional.
Por outro lado, quando pessoas com transtorno de personalidade se relacionam com uma pessoa com estrutura emocional saudável, embora essas possam se encantar durante o período da conquista inicial no relacionamento, não permanecem muito tempo na relação, visto que conseguem avaliar, mediante a sua autoestima fortalecida, que merecem mais do que aquela relação lhes proporciona.
Porém, não há como entrar em uma relação com características tóxicas sem sair enfraquecido, com menos energia ou mesmo com menos crença em si mesmo.
Muitas vezes é difícil identificar a agressão verbal, pois ela acontece, na grande maioria das vezes, quando a vítima e o agressor estão sozinhos. Contudo, se seu parceiro já lhe dirigiu palavras depreciativas, você já foi vítima de violência verbal. Porém, numa relação com uma pessoa tóxica essa violência vai aumentando com o passar do tempo e, além dos xingamentos, o exercício de poder sobre a vítima faz com que esta questione as suas escolhas e a sua percepção do mundo e da relação. Mas, como o agressor nega aquilo que falou, muitas vezes a pessoa se sente muito confusa e sozinha. E essa confusão em relação ao seu mundo interno torna difícil a percepção dessa agressão.
É necessário entender que uma pessoa com uma personalidade agressiva não consegue alcançar a empatia que o amor exige.
Os limites entre a violência verbal e a violência psicológica são tênues. A violência psicológica inclui a manipulação da vítima, seu isolamento pela desqualificação de seus amigos e de sua família. Violência verbal e psicológica andam lado a lado.
A violência física e a violência sexual agridem corpo e espírito. São mais aparentes e não conseguem ficar mascaradas como acontece no caso das outras agressões.
Conseguir sair de uma relação assim não é fácil, mas é necessário e vital.
O caminho a ser seguido após viver uma relação que envolve um gasto de energia tão grande e a perda da conexão consigo mesma não é nada fácil, e tornar a confiar em outra pessoa pode ser muito difícil.
O medo desenvolvido pelo que se viveu gera insegurança, e essa parece ser uma sombra que permeia a ideia de estar junto a outra pessoa.
Mas tudo em nossa vida são processos. E no final de um relacionamento dessa ordem é preciso viver todo o luto que se relaciona a ele para que se possa seguir adiante e se tornar uma pessoa muito mais forte!
Muitas vezes se percebe que o luto a ser vivido está muito mais relacionado ao ideal de relação do que à própria pessoa que você julgava amar.
E realmente deixar ir um ideal dói, mas também é engrandecedor e pode lhe levar a buscar uma realidade muito mais feliz, na qual você nunca tinha pensado.
Sendo assim, independentemente do quão tóxica a relação tenha sido, o seu final deixa a sensação de um vazio e a necessidade de um reencontro consigo mesma.
Tal qual no conto de fadas “Barba Azul” a família, ou mesmo amigos e uma rede de apoio se tornam fundamentais para a recuperação de uma pessoa que vivenciou momentos tão difíceis ao lado de alguém em quem confiou e em quem depositou expectativas.
Portanto, caso você se perceba vivendo com alguém que lhe diminui busque ajuda, priorize a sua saúde, aprenda a confiar em você, viva o seu luto e tenha a certeza de que você pode sair dessa situação muito mais forte do que você era antes, pois foi exatamente assim que aconteceu comigo.
Um forte abraço, conecte-se e compreenda que você não está sozinha.