por Filippo Pedrinola

A “FEBRE” DAS CANETAS PARA EMAGRECER

Wegovy, Ozempic, Trulicity, Saxenda, Mounjaro, vamos entender as diferenças entre essas injeções.

A semaglutida (Ozempic, Wegovy) é um medicamento da classe dos agonistas dos receptores do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucacon), assim como a liraglutida (Saxenda) e a dulaglutida (Trulicity). Já a tirzepatida (Mounjaro) tem ação dupla como agonista do GLP1 e também do GIP (peptídeo inibidor gástrico).

Foram inicialmente desenvolvidas originalmente para controle da glicose no sangue de pacientes com diabetes tipo II, e recentemente algumas foram aprovadas, também, como tratamento do sobrepeso e da obesidade.

O GLP-1 é uma incretina, isto é, uma substância produzida pelo pâncreas e pelos intestinos que regula o metabolismo da glicose. É produzido no intestino delgado toda vez que nos alimentamos e sua principal função é estimular a liberação de insulina pelo pâncreas. Além disso, bloqueia a liberação da glicose no fígado, diminui a secreção de glucacon quando a glicemia está alta, reduz a velocidade de esvaziamento gástrico e a absorção de glicose pelo trato gastrointestinal, promovendo a saciedade por uma ação direta no sistema nervoso central, mais especificamente no hipotálamo, além de diminuir a velocidade de esvaziamento do estômago, dando saciedade, e com isso reduz a ingestão de alimentos. Como a semaglutida é um agonista dos receptores do GLP-1, acaba funcionando como se fosse um GLP-1 sintético, com as mesmas funções daquele produzido no intestino. O GIP (peptídeo inibidor gástrico) também é uma incretina produzida no intestino.

Esses medicamentos vêm ganhando popularidade nos últimos anos porque os estudos publicados em revistas de alto valor de impacto científico, mostraram eficiência e segurança da medicação, tendo sido aprovada para o tratamento do sobrepeso e obesidade inclusive em crianças acima de 12 anos.

O Wegovy tem exatamente o mesmo princípio ativo, a semaglutida, só que é capaz de oferecer doses maiores e foi aprovado recentemente para o tratamento da obesidade.

O Ozempic chega até 1,0mg, enquanto o Wegovy chega a 2,4 mg. Todos os análogos do receptor de GLP-1 foram lançados inicialmente para o controle do diabetes tipo II, porém, com o seu uso observou-se que os pacientes diminuíam também o peso, principalmente a gordura visceral, que é a mais perigosa.

O Mounjaro (Tirzepatida) é o mais recente e os estudos mostram que, além do controle da glicose no sangue de diabéticos, para o qual é aprovado, mostra maior potencial de perda de peso em relação aos outros produtos. Foi aprovado pela Anvisa recentemente no Brasil, exclusivamente para o tratamento do diabetes tipo 2, mas seu uso “off label” para emagrecimento é surpreendente e, segundos os estudos publicados, leva a uma diminuição de 23% do peso corporal em pessoas não diabéticas, mas ainda não é aprovado para esse fim. Deve ser apenas uma questão de tempo para que isso aconteça.

O uso com objetivo de emagrecimento começou a ser feito de forma “off label”, o que não significa proibido, e os estudos mais recentes aprovaram então para o tratamento do sobrepeso e obesidade. É por isso que não deve mais ser chamado de “remédio para diabetes”!

Os prós do uso desses medicamentos são a eficácia e segurança no tratamento do diabetes, diminuição de gordura visceral e síndrome metabólica, emagrecimento, melhora dos níveis de glicemia, insulina, colesterol e triglicérides e diminuição do risco de doenças cardiovasculares e da pressão arterial.

Os contras são os possíveis efeitos adversos, principalmente gastrointestinais como náuseas, vômitos, constipação e diarréias. Outros efeitos colaterais possíveis são: má digestão, empachamento, dor de estômago, refluxo, cólicas, excesso de gases, cálculo biliar, tontura e cansaço. 

Fica aqui o alerta para não cair naqueles conselhos nada científicos de que o ideal é tomar uma pequena dose ao dia ou 2 a 3 vezes por semana. Os medicamentos de uso semanal devem ser usados apenas 1 vez por semana.

Em relação a suspeita de causar pancreatite, no estudo “SUSTAIN-6” a taxa de pancreatite aguda com semaglutida foi semelhante a do placebo, e ocorreu em apenas em 0,1% dos pacientes.

Além disso, pela primeira vez na história, ficou demonstrado pela publicação do estudo “SELECT”, que a semaglutida na dose de 2,4 mg por semana (Wegovy), reduziu em 20% eventos cardiovasculares em pessoas com obesidade, acompanhados por um período de 5 anos.

Seu uso é contraindicado para gestantes, durante aleitamento, crianças com menos de 12 anos e pacientes com Diabetes Mellitus tipo 1.

A obesidade é uma doença e, portanto, deve ser tratada como tal, não só como uso de medicamentos, mas principalmente pelo incentivo a mudança de hábitos, como buscar alimentação saudável, praticar atividade física regular e cuidar das

emoções. 

Existe o perigo de se criar um” hype” sobre medicamentos e até repopularizar o emagrecimento químico, e é por isso que a automedicação é absolutamente contraindicada e a prescrição deve ser feita, apenas por médicos especialistas e com experiência no manejo de pacientes com sobrepeso e obesidade.

É uma pena que no Brasil essas “canetas” sejam vendidas sem a necessidade de receita. Isso induz ao uso equivocado e maiores chances de efeitos colaterais.

Como vimos, esses medicamentos representam um grande avanço no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade, mas, como qualquer remédio, devem ser usados apenas com prescrição e acompanhamento médico associados a mudança de estilo de vida.

Por Dr. Filippo Pedrinola (edição 37)

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